A história presente

Hoje formado por um complexo arquitetônico e paisagístico de 25 mil metros quadrados, com uma série de construções, incluindo o Boulevard Castilhos França, o Mercado de Carne e o Mercado de Peixe, o casario, as praças do Relógio e Dom Pedro II, a doca de embarcações, a Feira do Açaí e a Ladeira do Castelo, o que hoje conhecemos como Complexo do Ver-o-Peso começou em 1625 apenas com a Casa de “Haver o Peso”, posto de aferição de mercadorias e arrecadação de impostos no antigo Porto do Pirí.

Muito se fala das influências europeias das edificações construídas naquela porção de Cidade Velha e Campina desde o período colonial, como uma síntese da conformação arquitetônica da cidade em vários estágios e estilos, o que encobre em parte o fato do mercado e seu entorno ter sido conformado também por diversas formas de presenças a partir do século XVIII: indígenas escravizados, trazidos dos rios Negro, Japurá, Solimões e Madeira; negros de Angola e Benguela; colonos portugueses vindos da África e da Metrópole; traficantes de pessoas negras em condição escrava e agenciadores dos produtos regionais; missionários, cientistas e militares que por ali embarcavam.

A história política da cidade conta também com importantes registros naquele espaço. Foi o porto do Ver-o-Peso o local da chacina que ficaria conhecida como “tragédia do Brigue Palhaço” no ano de 1823, quando 256 pessoas, sob a guarda de agentes do governo por serem contra a independência do Brasil, foram assassinadas por asfixia com cal em pó no porão do navio Brigue Palhaço. Em 1835, o porto também serviu como um dos pontos de chegada dos insurgentes vindos do interior para tomar a capital paraense, momento em que foi deflagrada a maior revolução social da região, a Cabanagem.

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Aspecto do Porto do Ver-o-Peso em Belém (PA) – jun. 1953 @IBGEcidades

No histórico de mudanças recentes na estrutura do Complexo, duas grandes reformas foram realizadas nos últimos 30 anos.

A primeira em 1985, durante a administração municipal de Almir Gabriel, quando o Mercado de Ferro foi restaurado, junto com outras reformas e melhorias no Solar da Beira, na Praça do Pescador e na feira livre, com a construção da Praça dos Velames e de barracas padronizadas.

Em 1998, teve início a segunda grande reforma do Ver-o-Peso, sob a responsabilidade do prefeito Edmilson Rodrigues. Com o objetivo de intervir na feira em âmbito geral, contemplando, assim, aspectos que iam do paisagístico aos processos de organização política dos feirantes para a gestão comunitária dos setores, o governo municipal realizou na época uma série de estudos em parceria com a universidade, consultas, reuniões com os trabalhadores, assim como um concurso público aberto a todo o Brasil para a seleção do projeto de reforma.

Em 03 de maio de 2011, o Ver-o-Peso estava entre os 3.500 espaços do Centro Histórico de Belém tombados pelo Conselho Consultivo do Iphan. Antes dessa decisão, eram apenas 23 bens reconhecidos como patrimônio histórico em nível federal na cidade de Belém, que até então possuía cerca de 800 imóveis protegidos por outras esferas governamentais.

Uma cronologia com alguns dos principais eventos que marcaram o Complexo do século XVII ao XXI está disponível no Ver-o-site, organizado pelo Centro de Memória da Amazônia e a Superintendência do Iphan no Pará em 2011. Para acessar diretamente o histórico, clique aqui.