Planejamento autoritário e excludente

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Depois de conhecermos o projeto de reforma pela imprensa e de ouvirmos um pouco mais alguns feirantes em pelo menos três idas à feira, procuramos elencar algumas das questões mais preocupantes.

Nesse post, vamos destacar pelo menos duas:

Planejamento arbitrário e exclusão

Manoel Rendeiro, o seu Didi, presidente da Associação de Feirantes e representante do setor de verduras e legumes da feira, explica que apenas duas reuniões foram realizadas pela prefeitura com os trabalhadores do Ver-o-Peso no ano passado, sendo a última em novembro, quando o projeto foi apresentado a eles e muitos questionamentos foram realizados junto aos idealizadores, especialmente sobre a ausência da Pedra do Peixe e da Feira do Açaí no plano da reforma.

Esses setores excluídos mobilizam diariamente relações com todo um conjunto de ilhas do entorno de Belém e de outras regiões mais afastadas, como parte do arquipélago do Marajó, especialmente para a comercialização dos chamados produtos florestais não-madeireiros, como frutos, óleos, sementes, entre outros, que são parte de uma economia extrativista historicamente ignorada ou negligenciada pelos grupos políticos e econômicos dominantes da capital e de todo o estado.

Redução de espaços para os feirantes

A pressão sobre as atividades comerciais do Ver-o-Peso não é recente. Desde o recadastramento realizado pela prefeitura de Belém no período de junho a outubro de 2015, representantes da Secretaria de Economia vinham pressionando as famílias de feirantes que dispõem de barracas há décadas a reduzirem o número de equipamentos mantidos na feira.

O gesto demonstra, senão a incompreensão, a intolerância dos técnicos e gestores públicos quanto à importância das relações familiares entre os feirantes em diferentes setores do Ver-o-Peso, como é o caso da Leila Bandeira e da dona Miraci Alexandre, que cedo aprenderam o ofício de erveiras com as mães e, após a formação de suas próprias famílias, mantiveram-se como comerciantes em suas próprias barracas, tirando dela a principal forma de sustento financeiro.

Nesse contexto, a manutenção de várias barracas por uma mesma família não parece se tratar de mera concentração do espaço ou dos recursos disponíveis na feira, mas de relações de aprendizado e trabalho que favorecem o ensino dos ofícios pelos pais e a permanência dos filhos na mesma atividade.

Mas, segundo a proposta da prefeitura, a Leila, que é filha da dona Coló, teria que partilhar, junto com sete irmãos, do mesmo box que a mãe. A pressão também se deu no sentido de redução do número de equipamentos: dos três permitidos pela lei municipal de feiras e mercados, os feirantes teriam que devolver dois, sendo que cada um apresenta menos de um metro quadrado, e algumas atividades, como a  vendas de fitoterápicos, de ervas e de cheiros, exigem espaços de armazenamento próprios, conforme as instruções dadas por especialistas da universidade, segundo conta a dona Miraci.

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